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4/6. Dirty Old Man: Magnum Opus

Misto Quente é o quarto romance do escritor Charles Bukowski. Lançado em 1982, pela editora Black Sparrow, tornou-se o Magnum Opus do escritor teuto-estadunidense.

“A primeira coisa de que me lembro é de estar debaixo de alguma coisa. Era uma mesa, eu via uma das pernas de madeira, via as pernas das pessoas e um tanto da toalha que pendia no ar. Era escuro lá embaixo, eu gostava de ficar por ali. Isto deve ter sido na Alemanha. Eu devia ter um ou dois anos de idade. Era 1922. Eu me sentia bem debaixo da mesa. Ninguém parecia saber onde eu estava. A luz do sol escorria sobre o tapete, sobre as pernas das pessoas.”


Misto Quente retrata a infância e adolescência de Henry Chinaski – alter ego do escritor. Chinaski enfrenta a recessão pós 1929 nos Estados Unidos. De origem pobre e alemã, vive com seus pais. Pai autoritário e quase beirando a psicopatia e uma mãe passiva ao extremo. Durante esse período, Chinaski afronta um terrível problema envolvendo espinhas. O problema com a acne surgiu durante à oitava e nona série. Seu rosto e corpo ficavam cobertos de espinhas, e lhe causavam muitas dores. Era submetido a diversos tratamentos no hospital público de Los Angeles. Ficou temporariamente fora da escola por aproximadamente um ano para tratamento.


“Minha mãe saiu detrás do arbusto. – Henry, Henry, não vá para casa, não vá para casa, seu pai vai mata-lo! – Como ele vai fazer isso? Posso chutar o rabo dele. – Não, ele está furioso, Henry! Não vá para casa, ele vai mata-lo! Estou esperando você aqui há horas! Os olhos da minha mãe estavam esbugalhados de medo, muito bonitos, grandes e castanhos. – O que ele está fazendo em casa tão cedo? – Ficou com dor de cabeça e disseram para que ele tirasse a tarde de folga! – Pensei que você estivesse trabalhando. Você não tinha arranjado um novo emprego? Ela tinha conseguido um trabalho como doméstica. – Ele apareceu e me pegou! Está furioso! Vai matar você! – Não se preocupe, mamãe, se ele mexer comigo dou um chute naquele seu maldito rabo, eu lhe prometo. – Henry, ele encontrou e leu os seus contos! – Nunca pedi para que ele lesse. – Ele os encontrou na gaveta! E leu todos eles, todos eles! Eu tinha escrito dez ou doze contos. Dê uma máquina de escrever a um homem ele se tornará um escritor. Eu escondera as história debaixo do forro de papel da minha gaveta de cuecas e meias. – Bem – eu disse –, o velho foi brincar com fogo e acabou queimando os dedos. - Ele disse que vai mata-lo! Disse que nenhum filho dele poderia escrever aquelas histórias e continuar vivendo sob o mesmo teto que ele! Peguei-a pelo braço. – Vamos para casa, mamãe, e vejamos do que ele é capaz... – Henry, ele jogou todas as suas roupas no gramado, toda sua roupa suja, sua máquina de escrever, sua mala e suas histórias! – Minhas histórias também? – Sim, elas também... – Vou mata-lo! Desvencilhei-me dela e caminhei através da 21ª em direção à avenida Longwood. Ela veio atrás de mim. – Henry, Henry, não entre lá! A pobre mulher se agarrava as costas da minha camisa. – Henry, escute, alugue um quarto pra você em algum lugar! Henry, tenho aqui dez dólares! Pegue estes dez dólares e arranje um quarto em algum lugar! Virei-me. Ela segurava a nota de dez. – Esqueça – eu disse. – Vou embora de qualquer jeito. – Henry, aceite o dinheiro! Faça isso por mim! Faça isso pela sua mãe! – Bem, está certo... Peguei os dez dólares, guardei no meu bolso. – Obrigado, isto é bastante dinheiro. – Está tudo bem, Henry. Eu te amo, Henry, mas você precisa ir. Ela corria na minha frente enquanto eu continuava na direção de casa. Então eu vi: minhas coisas estavam todas espalhadas pelo gramado, todas as minhas roupas, as sujas e as limpas, a mala aberta, meias, camisas, pijamas, um velho roupão, tudo jogado ali, sobre o gramado e sobre a rua. E vi meus manuscritos sendo soprados pelo vento, caindo na sarjeta, dispersos por toda parte. Minha mãe correu pela entrada lateral e foi para dentro de casa. Gritei às suas costas de modo que ele pudesse me ouvir: – DIGA A ELE PARA VIR AQUI FORA QUE EU VOU ARRANCAR A MALDITA CABEÇA DELE!”


Uma das obras mais comoventes e mais lidas de Charles Bukowski. Sinceridade e simplicidade; ânsia por dignidade; busca pela verdade e liberdade; são características que cativam o leitor e mostram a verdadeira essência do escritor.


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