Crônica: Anseios
- Rafael Ribeiro
- 31 de jan. de 2017
- 3 min de leitura
Hoje estava me lembrando dos tempos de infância. As brincadeiras. Os pés sujos de barro. Os joelhos esfolados. O radinho de pilha e o 3 em 1 que davam um brilho especial. Era uma época que estava em constante mutação. O mundo se desenvolvia. As indústrias estavam se expandindo. Mas nós, crianças, na época, não ligávamos para isso. Queríamos apenas brincar, se divertir e cantar. Nada mais.

Sempre tive contato com a música, desde piá. Minha avó sempre ouvia rádio depois do almoço. Deitava-se na cama e sintonizava na rádio que tocava músicas da jovem guarda. Bons e velhos tempos.
Quando tinha meus oito anos, meu pai abriu um bar/restaurante. Um ambiente rústico. Portas de madeira. Troncos de madeira que eram os pilares de sustentação. Jardim. Enfim, um ambiente aconchegante e bem quisto pelos frequentadores.
Sempre acontecia rodas de samba e pagode. Voz e violão. Então sempre estava rodeado de melodias provenientes desses acontecimentos. Tudo era tão belo e sonoro. As pessoas alegres dançando e caminhando pelas extremidades do bar. Eu no meio observando cada movimento e atento a cada melodia. Meus olhos brilhavam. Entravam em sintonia. Assim desenvolvi a vontade de aprender algum instrumento.
Minha família nunca soube do meu anseio por aprender um instrumento. Sempre fui uma pessoa contida com meus sentimentos e desejos, mas às vezes deixava escapar alguma coisa – entretanto nunca deram importância. Os dias e às horas passavam, e minha agonia e vontade só aumentava. Durante o período que passava no bar, fiz diversas amizades. Uma delas foi com o Bruno, um japonês que toca violão extremamente bem. Quando ele chegava já corria para o seu encalço. Ficava horas observando ele tocar. Normalmente músicas nacionais e conhecidas da época. Além do instrumento de seis cordas, ele tirava sua gaita do bolso e enquanto tocava o violão, solava na gaita.
Até que em 2014, após ter passado vários anos com vontade de aprender um instrumento, comprei um violão – Memphis AC-39. Meu primeiro violão comprado com meu próprio dinheiro. Na época estava estagiando na prefeitura. Recebia uns 500 reais por mês – eu me sentia como o Eike Batista, mas antes de ser pego e preso na operação lava-jato.
Passou-se alguns meses, mais precisamente em junho, mês do meu aniversário, comprei outro violão. Mas agora mais incrementado. Também um Memphis, porém um MD-18, com captador e cordas de aço. Comprado com o salário que ganhava na prefeitura. Foi a partir desse dia que o violão se tornou um refúgio. Cada música que aprendia se tornava um suspiro de alegria e de orgulho.
Outro dia achei umas notas ficais na gaveta e vi que eram de livros e de encordoamentos para violão. Somei as notas que correspondiam ao encordoamento e resultou em mais de 500 reais. O cômico é que gastamos mais para manter um instrumento do que para comprar um novo.
Depois que comprei meu segundo violão, consegui desenvolver-me melhor. E em um curto espaço de tempo aprendi mais de 100 músicas. Poderia ter aprendido muito mais, mas o ócio sempre acaba prevalecendo.
Aprender um instrumento torna-se prazeroso. Trabalhamos com uma variedade de sonoridades incríveis. Além de expandirmos nossa percepção.
Em 2016 meu pai, no dia do meu aniversário, me presentou com uma guitarra. Estava enjoado do violão e tinha desejo de possuir uma guitarra – ainda mais que sou fã de Pink Floyd, então uma guitarra é extremamente necessário. Eis que ele me faz uma surpresa desse tipo. No dia foi uma mistura de espanto, alegria, emoção e de um sonho ou desejo – como preferirem – realizado.
Decidi escrever esse texto porque aprender um instrumento é benéfico para o ser humano. Faz bem para mente e alma. É um infortúnio que nas escolas não tenha mais música. Em algumas até possuem, mas normalmente são particulares. Música devia ser disciplina obrigatória nas escolas públicas, além das demais como: matemática, português, sociologia, filosofia, etc.
Como já diria Nietzsche: “Sem a música, a vida seria um erro”.
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