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A Vida Começa aos 65

  • Rafael Ribeiro
  • 24 de jan. de 2017
  • 11 min de leitura

“O grande momento chegou. Pus a máquina de escrever em cima da mesa, encaixei uma folha de papel e bati nas teclas. A máquina ainda funcionava. E havia bastante espaço para um cinzeiro, o rádio e a garrafa. Não deixem ninguém convencê-los de outra coisa. A vida começa aos 65.”



Charles Bukowski/Foto: Internet


INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA


Entre pensões, albergues, bares, hipódromos, boates... Bukowski levava à vida. Uma vida solitária, regada a vinho, cerveja, mulheres, cigarro, drogas e escrita.


Nascido na década de 20, em Andernach, Alemanha – mudou-se aos três anos para solo americano. Filho único de Heinrich Bukowski – soldado do exército americano – e Katharina Bukowski – dona de casa.


Na vinda para os Estados Unidos a família Bukowski instalou-se em Baltimore, no ano de 1923. E logo após mudaram-se para o subúrbio de Los Angeles.


Heinrich sempre foi um homem autoritário com a família. Frustrado com a vida, descontava tudo em Henry (Bukowski) e na sua esposa Katharina. Bukowski sempre sofria abusos físicos e psicológicos por parte de seu pai, mas com o tempo aprendeu a lidar e aguentar os castigos.


Bukowski sofria de um distúrbio de acne. O problema com a acne surgiu durante à oitava e nona série. Seu rosto e corpo ficavam cobertos de espinhas, e lhe causavam muitas dores. Era submetido a diversos tratamentos no hospital público de Los Angeles. Ficou temporariamente fora da escola por aproximadamente um ano para tratamento.


Durante o período escolar nunca teve muitos amigos. Sempre foi solitário. Não gostava da própria família. Odiava seu pai. Odiava sua mãe, mas não com a mesma intensidade em relação ao pai. Katharine foi uma mãe submissa e continuamente apoiava seu marido. Mesmo em relação aos castigos sofridos por Bukowski. E diversas vezes sem motivo aparente.


Na adolescência começou à desbravar Los Angeles. Descobriu o álcool e os livros, e com isso sua vida tornou-se mais “suportável”. Passava horas na biblioteca pesquisando e lendo filósofos, romancistas – foi em uma dessas investidas que descobriu sobre Dostoiévski e Hemingway.


Seduzido pelo pessimismo de Dostoiévski e a simplicidade de Hemingway, – principais influências – Bukowski criou seu estilo próprio. Uma escrita repleta de álcool, ficção e realismo sujo.


Em 1939 ganhou sua primeira máquina de escrever. Presente de seu pai. No mesmo ano começou a cursar jornalismo pela Faculdade da Cidade de Los Angeles. Não tinha taxa de inscrição na época e os livros que iria precisar poderiam ser adquiridos na biblioteca da cooperativa. Segundo Bukowski, o pai sentia-se envergonhado pelo fato do filho não ter emprego, mas acreditava que mandando-o para faculdade, Bukowski, poderia ganhar algum respeito.


Eli LaCrosse (Carequinha) já estava lá há um semestre. Ele me aconselhou.

– Qual desses cursos fodidos é o mais fácil de se fazer? – perguntei-lhe. – Jornalismo. Esses sujeitos especializados em jornalismo não fazem nada. – Beleza, serei jornalista. Dei uma olhada no folheto da escola. – O que é esse Dia da Orientação de que eles falam aqui? – Oh, esquece isso, é pura merda. – Obrigado por me avisar, parceiro. Em vez de perdermos nosso tempo com isso, vamos até o bar do outro lado do campus tomar duas geladas. – Mas que beleza! – É.

Foto: internet

Conciliava o álcool e a faculdade e muitas vezes chegava nas aulas atrasado e bêbado. Saia depois que seu pai emitia o primeiro ronco e sabia que só acordaria no outro dia. Fazia beberagens com os poucos amigos que tinha. Mas Bukowski foi expulso de casa no mesmo ano que entrou na faculdade. Seu pai havia descoberto os contos que escrevia e lido todos eles. Heinrich não admitia as coisas que o filho escrevia.


Minha mãe saiu detrás do arbusto. – Henry, Henry, não vá para casa, não vá para casa, seu pai vai mata-lo! – Como ele vai fazer isso? Posso chutar o rabo dele. – Não, ele está furioso, Henry! Não vá para casa, ele vai mata-lo! Estou esperando você aqui há horas! Os olhos da minha mãe estavam esbugalhados de medo, muito bonitos, grandes e castanhos. – O que ele está fazendo em casa tão cedo? – Ficou com dor de cabeça e disseram para que ele tirasse a tarde de folga! – Pensei que você estivesse trabalhando. Você não tinha arranjado um novo emprego? Ela tinha conseguido um trabalho como doméstica. – Ele apareceu e me pegou! Está furioso! Vai matar você! – Não se preocupe, mamãe, se ele mexer comigo dou um chute naquele seu maldito rabo, eu lhe prometo. – Henry, ele encontrou e leu os seus contos! – Nunca pedi para que ele lesse. – Ele os encontrou na gaveta! E leu todos eles, todos eles! Eu tinha escrito dez ou doze contos. Dê uma máquina de escrever a um homem ele se tornará um escritor. Eu escondera as história debaixo do forro de papel da minha gaveta de cuecas e meias. – Bem – eu disse –, o velho foi brincar com fogo e acabou queimando os dedos. - Ele disse que vai mata-lo! Disse que nenhum filho dele poderia escrever aquelas histórias e continuar vivendo sob o mesmo teto que ele! Peguei-a pelo braço. – Vamos para casa, mamãe, e vejamos do que ele é capaz... – Henry, ele jogou todas as suas roupas no gramado, toda sua roupa suja, sua máquina de escrever, sua mala e suas histórias! – Minhas histórias também? – Sim, elas também... – Vou mata-lo! Desvencilhei-me dela e caminhei através da 21ª em direção à avenida Longwood. Ela veio atrás de mim. – Henry, Henry, não entre lá! A pobre mulher se agarrava as costas da minha camisa. – Henry, escute, alugue um quarto pra você em algum lugar! Henry, tenho aqui dez dólares! Pegue estes dez dólares e arranje um quarto em algum lugar! Virei-me. Ela segurava a nota de dez. – Esqueça – eu disse. – Vou embora de qualquer jeito. – Henry, aceite o dinheiro! Faça isso por mim! Faça isso pela sua mãe! – Bem, está certo... Peguei os dez dólares, guardei no meu bolso. – Obrigado, isto é bastante dinheiro. – Está tudo bem, Henry. Eu te amo, Henry, mas você precisa ir. Ela corria na minha frente enquanto eu continuava na direção de casa. Então eu vi: minhas coisas estavam todas espalhadas pelo gramado, todas as minhas roupas, as sujas e as limpas, a mala aberta, meias, camisas, pijamas, um velho roupão, tudo jogado ali, sobre o gramado e sobre a rua. E vi meus manuscritos sendo soprados pelo vento, caindo na sarjeta, dispersos por toda parte. Minha mãe correu pela entrada lateral e foi para dentro de casa. Gritei às suas costas de modo que ele pudesse me ouvir: – DIGA A ELE PARA VIR AQUI FORA QUE EU VOU ARRANCAR A MALDITA CABEÇA DELE!


O COMEÇO


Após ser expulso da própria casa, Bukowski começou a viver em pensões. Como estava desempregado e não conseguia trabalho, desistiu da faculdade. Não tardou para que seus problemas com alcoolismo se agravassem. Trabalhou em empregos temporários em diversas cidades dos Estados Unidos, como frentista, faxineiro e motorista de caminhão. No início da década de 50 conseguiu uma vaga temporária nos correios – mas Bukowski nunca imaginou que passaria cerca de 14 anos trabalhando para os Correios dos Estados Unidos.


Tudo começou com um erro. Era época de Natal e ouvi do bêbado lá da colina, que aplicava esse truque todo Natal, que eles contratariam qualquer desgraçado, então eu fui, e a próxima coisa que me lembro é de estar com essa sacola de couro sobre meus ombros, vagando à toa por aí. Que emprego, pensei. Moleza! Eles davam a você apenas um ou dois pacotes de cartas e se você desse um jeito de se livrar deles, o carteiro regular lhe daria outro pacote para carregar, ou talvez você voltasse lá para dentro e o panaca da seção lhe desse outro, mas, na maior parte das vezes, bastava fazer uma média, seguir no seu ritmo, ir empurrando os tais cartões de Natal pelos buracos das caixas de correspondência.


Enquanto trabalhava nos correios, bebia e escrevia. Enviava seus contos para diversas editoras, mas nunca obtinha resposta. Entretanto à editora da Revista Herlequin, Barbara Frye, estava convicta de que Bukowski era um gênio. Barbara e Bukowski começaram a se corresponder e Bukowski teve alguns contos publicados que lhe renderam centenas de dólares.


Barbara Frye declarou que “nenhum homem se casaria com ela”, mas Bukowski respondeu: “Eu me casarei”. O casamento durou pouco tempo e logo se separaram.

Após o rompimento com Barbara, Bukowski conhece Frances Smith e se casam. Em setembro de 1964 nasce Marina Louise Bukowski.


Bukowski e Marina/Foto: Internet


No documentário Born Into This, publicado no YouTube, Marina fala sobre a relação com o pai.


Em 1965, John Martin, entrou em contato com Bukowski para lhe fazer uma oferta. A oferta consistia em que ele largasse o emprego nos correios e apenas escrevesse em tempo integral para editora Black Sparrow. Receberia 100 dólares por mês pelo resto de sua vida. Bukowski aceitou à oferta e iniciou uma aliança com John Martin.


John Martin fundou à editora Black Sparrow especialmente para publicar os trabalhos de Bukowski. Na época Bukowski escrevia livretos entre dez e doze páginas e era publicado em versões de 100 exemplares. Normalmente em editoras pequenas, mas que na realidade eram apenas fãs do escritor.


O editor da Black Sparrow disse para Bukowski que romances vendiam mais que poemas, então propôs para que ele escrevesse um romance. Cerca de quatro semanas depois Bukowski retornou para John Martin.


“Já está pronto, venha pegar.” “O quê?” “Meu romance.” “Você escreveu um romance desde a última vez que nos vimos?” “Sim.” “Como isso é possível?” “O medo pode fazer muitas coisas”


O romance que acabava de surgir era Cartas Na Rua. Publicado em 1971, é o primeiro romance de Charles Bukowski. Nesse romance Bukowski cria um alter ego chamado Henry Chinaski e narra as memórias como funcionário dos Correios no início da década de 50.


O AUGE


A popularidade de Bukowski começou a crescer durante 1974, e com isso surgiram outros romances famosos: Factótum (1975), Mulheres (1978), Misto Quente (1982), Hot Water Music (1983), Hollywood (1989) e Pulp (1994).


Pulp é o único romance que não aparece Henry Chinaski como alter ego de Bukowski, e sim Nick Belane que investiga diversos casos no decorrer do livro. Pulp foi o último livro escrito por Charles Bukowski. Concluído meses antes de seu falecimento em março de 1994, em San Pedro, Los Angeles.


Cartas na Rua (1971)/Foto: Internet

Factótum (1975)/Foto: Internet

Mulheres (1978)/Foto: Internet

Misto Quente (1982)/Foto: Internet

Hot Water Music (1983)/Foto: Internet

Hollywood (1989)/Foto: Internet

Pulp Novela (1994)

Após escrever diversos livros de romances, contos e poemas, Bukowski começou a escrever o roteiro de Barfly. Filme encomendado pelo cineasta francês Barbet Schroeder e que chegou as telas em 1987.


O longa retrata o tempo em que Bukowski foi alcóolatra em Los Angeles, Califórnia. Barfly foi estrelado por Mickey Rourke e Faye Dunaway. Mickey interpretou Henry Chinaski e Faye fez o papel de Wanda Wilcox.


Pôster do Filme Barfly (1987)/Foto: Internet

Faye Dunaway, Charles Bukowski e Mickey Rourke/Foto: Internet

Seja Bukowski ou seu alter ego Chinaski, ambos amavam música clássica. Bukowski sempre sintonizava nas rádios em seu carro. Perdia-se entre as melodias de Brahms, Mozart, Beethoven, Chopin, continuamente regado de uma boa bebida e escrita.


Muitos cantores e compositores espelharam-se em Bukowski e criaram músicas sobre o escritor. Johnny Cash, Tom Waits, Red Hot Chili Peppers, Modest Mouse e U2.


A música Dirty Day, da banda irlandesa U2, foi feita em homenagem ao escritor. O vocalista Bono Vox era fã do escritor. A canção foi lançada em 1993, no álbum Zooropa. Bukowski e Linda (esposa) foram convidados para comparecerem ao show do U2 em 1992. Bono conheceu Bukowski e o show foi dedicado ao casal.


Dirty Day - U2

O rock não me toca. Fui a um show de rock mais por causa da minha mulher, Linda. Claro, sou um cara legal, hem, hem? De qualquer forma, os ingressos eram de graça, cortesia de um músico de rock que lê os meus livros. Devíamos ir para um camarote especial para os famosos. Um diretor, ex-ator, veio nos buscar na sua caminhonete esporte. Outro ator estava com ele. São talentosos, do seu jeito, e não são maus seres humanos. Fomos até a casa do diretor, lá estava sua mulher, vimos seu bebê e daí saímos numa limusine. Drinques, conversa. O show era no Dodger Stadium. Chegamos atrasados. A banda estava no palco, um som ensurdecedor, gigante, 25.000 pessoas. Havia uma vibração, mas foi breve. Era muito simplório. Acho que as letras seriam legais se você conseguisse ouvi-las. Provavelmente, falavam de Causas, Decências, Amor achado e perdido etc. As pessoas precisam daquilo – anti-sistema, anti-pais, anti-alguma coisa. Mas uma banda milionária e bem-sucedida como aquela, independentemente do que disser, AGORA FAZIA PARTE DO SISTEMA.


Depois de um certo tempo, o líder da banda disse: “Este show é dedicado a Linda e Charles Bukowski!”. 25.000 pessoas aplaudiram como se soubessem quem éramos. Isso é pra morrer de rir.


Grandes estrelas do cinema andavam por ali. Já os tinha encontrado antes. Me preocupei com isso. Fiquei preocupado que diretores e atores viessem à nossa casa. Eu não gostava de Hollywood, os filmes raramente me emocionavam. O que eu estava fazendo ali, com aquelas pessoas? Será que estava sendo sugado? 72 anos brigando a briga certa para ser sugado? O show quase tinha terminado e seguimos o diretor para o bar VIP. Estávamos entre os eleitos. Puxa! Lá dentro, havia mesas, um bar. E os famosos. Fui até o bar. Os drinques eram de graça. Havia um enorme barman preto. Pedi meu drinque e disse a ele:


“Depois que eu tomar esse, vamos voltar lá e atacar”.

O barman sorriu.

“Bukowski!”

“Você me conhece?”

“Costumava ler suas Notas de um Velho Safado na L.A. Free Press e Open City.”

“Bem, quem diria...”

Apertamos as mãos. A luta foi cancelada.


Linda e eu falamos com várias pessoas, não sei sobre o quê. Eu continuava voltando ao bar a toda hora para pegar a minha vodka 7’s. O barman me servia em copos altos. Eu também tinha bebido na limusine no caminho para o show. A noite ficou mais fácil pra mim, era só uma questão de beber bastante, rápido e com frequência.


Quando o astro do rock chegou, eu já estava mais pra lá do que pra cá, mas ainda estava aqui. Ele sentou e conversamos, mas não lembro sobre o quê. Daí chegou a hora do black-out. Evidentemente fomos embora. Só sei porque me contaram depois. A limusine nos levou de volta pra casa. Quando cheguei em casa, tropecei nos degraus, caí e bati a minha cabeça nos tijolos. Recém tínhamos colocado os tijolos. Cortei a cabeça e machuquei a mão direita e as minhas costas.


Descobri a maior parte disso de manhã, quando levantei pra dar uma mijada. Havia o espelho. A minha aparência era a dos velhos tempos das brigas de bar. Cristo. Lavei um pouco do sangue, dei comida aos nossos nove gatos e voltei pra cama. A Linda também não estava se sentindo bem. Mas ela tinha visto seu show de rock.


O FIM


Durante os últimos anos de vida, Bukowski começou à diminuir a ingestão de álcool. Em março de 1993, recebeu o diagnóstico de que estava com leucemia e durante um ano fez tratamento. No dia 9 de março de 1994, aos 73 anos, em San Pedro, Los Angeles, Henry Charles Bukowski Jr faleceu.


No documentário Born Into This, à esposa de Bukowski, Linda, fala sobre como foram os últimos momentos ao lado do escritor.


“Ele estava semiconsciente no quarto de hospital. Eu estava sentada perto dos seus pés e sua cabeça estava na minha frente. (...) Eu me recordo que estava olhando do outro lado da sua cama onde estava sua filha, e eu olhei de relance para Hank e ele estava emitindo de sua boca pequenos “puffs”. Eu instantaneamente percebi que aqueles eram seus últimos suspiros. Logo em seguida, após alguns segundos, me levantei e fui até seu rosto para abraçá-lo. Isso ocorreu por um tempo, e... então ele se foi.”


“Naquele momento seu rosto se tornou absolutamente transparente e sereno. (...) Suas rugas, cicatrizes e tensão... tudo estava completamente relaxado. E havia uma tranquilidade que existiu e permeou tudo naquele momento – foi tão gentil e puro.”

O Pássaro Azul

“há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas sou duro demais com ele, eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.

há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas eu despejo uísque sobre ele e inalo fumaça de cigarro e as putas e os atendentes dos bares e das mercearias nunca saberão que ele está lá dentro.

há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas sou duro demais com ele, eu digo, fique aí, quer acabar comigo? quer foder com minha escrita? quer arruinar a venda dos meus livros na Europa? há um pássaro azul em meu peito que quer sair mas sou bastante esperto, deixo que ele saia somente em algumas noites quando todos estão dormindo. eu digo, sei que você está aí, então não fique triste.

depois o coloco de volta em seu lugar, mas ele ainda canta um pouquinho lá dentro, não deixo que morra completamente e nós dormimos juntos assim com nosso pacto secreto e isto é bom o suficiente para fazer um homem chorar, mas eu não choro, e você?”

Fontes:

Wikipédia (Site) Misto Quente (Livro)

Cartas Na Rua (Livro) Textos Autobiográficos (Livro) O Capitão Saiu Para o Almoço e os Marinheiros Tomaram Conta do Navio (Livro) Born Into This (Documentário) Vice (Site)

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